Desdobrando-se em mil volteios o homem taciturno tenta arrancar de dentro de si a máquina emperrada. Ele tem certeza, há tempos, de que as engrenagens falharam em muitas de suas interações. Por isso, o peito estufa; os olhos ardem; as mãos perderam a mobilidade. Ignora se o auxílio de alguém poderia livrá-lo do impasse. A máquina perfura em certos pontos a pele, vazando ali um fluido untuoso. O homem domina as ferramentas, utilizando-as de todas as formas conhecidas. E isso ainda é insuficiente para quebrar o emperramento. A máquina dentro do homem resiste a investidas e não permite ser arrancada como se arranca o ovo de um ser vivo, por exemplo. Desvirtuado de seu caminho pelo colossal erro de cálculo, o homem taciturno não dorme, não come, pois passa os dias reclinado sobre o peito, na tentativa de se desfazer das grandes placas de aço soldadas em seus ossos. Sofre os danos da disfuncionalidade. Não é ele nem mais o dentro, nem o fora. E se pergunta se o imenso mal não estaria na inabilidade das mãos. Pensa em cortá-las. Talvez assim o peso perdesse em densidade. E na irresolução, mais se empenha para tirar de si o grande desengonço, mal feitos da carne, capaz de digerir as suas energias, sem que ele possa combater o que o consome.
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